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Lula e Milei em Tensão na Cúpula Mercosul: Divergências, Prioridades do Brasil e a Agenda com Cristina Kirchner na Argentina

Lula e Milei em Tensão na Cúpula Mercosul: Divergências, Prioridades do Brasil e a Agenda com Cristina Kirchner na Argentina

temp_image_1751564918.429049 Lula e Milei em Tensão na Cúpula Mercosul: Divergências, Prioridades do Brasil e a Agenda com Cristina Kirchner na Argentina

Lula e Milei em Tensão na Cúpula Mercosul: Divergências, Prioridades do Brasil e a Agenda com Cristina Kirchner na Argentina

A mais recente Cúpula do Mercosul, realizada em Buenos Aires, foi palco de um claro contraste de visões entre o presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, e o anfitrião argentino, Javier Milei. Enquanto o Brasil assumia a presidência rotativa do bloco, os líderes expuseram suas abordagens radicalmente diferentes sobre o futuro e o propósito da união aduaneira.

Mercosul: Escudo Protetor vs. Cortina de Ferro

Em seu discurso, o Presidente Lula defendeu enfaticamente o papel do Mercosul como um mecanismo de proteção e fortalecimento para os países membros.

“Toda a América do Sul se tornou uma área de livre comércio baseada em regras claras e equilibradas. Estar no Mercosul nos protege. Nossa tarifa externa comum nos blinda de guerras comerciais alheias. Nossa robustez institucional nos credencia perante o mundo com parceiros confiáveis”, afirmou Lula, ressaltando a segurança e a credibilidade que o bloco oferece no cenário global.

Por outro lado, o Presidente Milei não poupou críticas, descrevendo o Mercosul com termos duros e defendendo uma abertura comercial muito maior.

“Se o Mercosul foi criado com a intenção nobre de integrar as economias da região, em algum momento esse norte foi afundando e a ação comercial conjunta terminou por prejudicar a maioria dos nossos cidadãos em prol de privilegiar alguns setores”, declarou Milei. Ele chegou a comparar as restrições do bloco a uma “cortina de ferro” que isola os países do comércio e da competição global, resultando em “bens piores e serviços a preços piores” para a população.

A Transferência da Presidência e a Relação Bilateral

Apesar das notórias diferenças ideológicas e das críticas públicas trocadas ao longo dos meses, o protocolo diplomático foi cumprido na Cúpula. Ao final do encontro, Javier Milei transferiu formalmente a presidência pro-tempore do Mercosul para Luiz Inácio Lula da Silva, que comandará o bloco nos próximos seis meses. Este momento marcou a primeira interação presencial entre os dois presidentes em território argentino desde a posse de Milei, em dezembro de 2023, embora não tenha havido uma reunião bilateral privada.

A Agenda Brasileira na Argentina: Para Além de Milei, o Olhar em Cristina Kirchner?

Um ponto de interesse na agenda de Lula em Buenos Aires, e que ecoa na política argentina, foi a expectativa sobre possíveis encontros para além do evento oficial do Mercosul. Enquanto uma reunião bilateral formal com Javier Milei não estava prevista, fontes indicavam a possibilidade de o presidente brasileiro se encontrar com outras figuras políticas relevantes da Argentina.

Entre os nomes mencionados, a ex-presidente e atual figura influente na política argentina, Cristina Kirchner, surgia como um potencial contato na agenda de Lula. Embora o encontro não fosse parte da programação oficial divulgada pela presidência brasileira, a relação próxima entre Lula e setores políticos ligados a Cristina Fernández de Kirchner, e a importância de Buenos Aires no tabuleiro regional, mantiveram a atenção sobre essa possibilidade durante a visita.

As Prioridades de Lula à Frente do Bloco

Com a posse da presidência do Mercosul, Lula delineou as prioridades do Brasil para o semestre, focando no fortalecimento do comércio intra-bloco e na expansão das parcerias externas:

  • Acordos Comerciais: Intensificar as negociações e buscar a assinatura de acordos de livre comércio pendentes. O acordo com a União Europeia segue como prioridade, apesar dos entraves, especialmente por parte de países como a França. Lula demonstrou confiança na conclusão até o fim do ano.
  • Novas Parcerias: Avançar nas negociações com a EFTA (Associação Europeia de Livre Comércio), Canadá, Emirados Árabes Unidos, Panamá e República Dominicana.
  • Foco na Ásia: Diante do cenário geopolítico global, Lula destacou a necessidade de o Mercosul se voltar para a Ásia, um centro dinâmico da economia mundial, buscando maior aproximação com países como Japão, China, Coreia, Índia, Vietnã e Indonésia.
  • Integração Setorial: Defender a inclusão de setores como o automotivo e o açucareiro na união aduaneira do bloco.

Transição Energética e Outros Desafios Regionais

Além do comércio, Lula abordou temas cruciais como a transição energética, mencionando a COP 30 em Belém como uma oportunidade para a região demonstrar seu potencial em soluções climáticas, dada a matriz energética relativamente mais limpa dos países sul-americanos. O presidente também defendeu ações conjuntas para atrair investimentos em tecnologia e combater o crime organizado na região.

A Cúpula do Mercosul em Buenos Aires, portanto, evidenciou as tensões ideológicas presentes no bloco, mas também reforçou a continuidade institucional com a passagem da presidência para o Brasil, que agora tem a tarefa de navegar essas divergências enquanto busca fortalecer a posição do Mercosul no cenário internacional e possivelmente articular sua agenda política regional, que pode incluir diálogos importantes com figuras como Cristina Kirchner na Argentina.

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