
Lula e Trump: O Intrincado Xadrez Diplomático por Trás do Encontro Aguardado

Lula e Trump: O Intrincado Xadrez Diplomático por Trás do Encontro Aguardado
Mais de dez dias se passaram desde que o ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, surpreendeu o mundo ao mencionar, em seu discurso na Assembleia Geral das Nações Unidas (ONU), a possibilidade de um encontro com o presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva. O aceno de “química excelente” e um abraço nos bastidores gerou expectativas, mas o aguardado encontro entre os dois líderes ainda não tem data nem local definidos. O que estaria por trás dessa aparente demora e das complexas negociações?
Um Aceno na ONU e a Espera Diplomática
Em 23 de setembro, após o discurso de Lula, Trump subiu ao púlpito da ONU e relatou um breve, mas significativo, contato com o líder brasileiro. A promessa de um encontro “na semana que vem” agitou os corredores da diplomacia. No entanto, o prazo já se esgotou. Fontes do Itamaraty apontam que a espera é natural, dada a complexidade das agendas presidenciais e o delicado contexto político.
Diplomatas de ambos os países, sob condição de anonimato, revelam que todas as opções estão sobre a mesa: desde uma simples conversa telefônica ou por videoconferência até um encontro presencial em Washington ou em um terceiro país neutro. A cúpula da Associação das Nações do Sudeste Asiático (Asean), em Kuala Lumpur, na Malásia, surge como uma possível oportunidade, onde ambos os líderes devem estar presentes.
Tensões e Desafios nos Bastidores das Relações Brasil-EUA
Apesar do aceno público de Trump, a relação entre os Estados Unidos e o Brasil tem sido marcada por uma escalada de tensões nos últimos meses. O governo americano impôs tarifas comerciais e outras medidas contra o Brasil, muitas delas interpretadas como retaliação ao julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro, aliado ideológico de Trump. A condenação de Bolsonaro pelo Supremo Tribunal Federal (STF) por tentativa de golpe de Estado, e as articulações de seu filho, Eduardo Bolsonaro, na Casa Branca por sanções ao Brasil, complicam o cenário.
A situação ganhou novos contornos com a aplicação da Lei Magnitsky contra a esposa do ministro Alexandre de Moraes e uma empresa ligada à sua família. Trump, desde o início, classificou as medidas como políticas, denunciando uma suposta “caça às bruxas” no Brasil.
Divisões Internas e o “Shutdown” Americano
No próprio governo americano, há uma divisão. Nomes como o Secretário de Estado, Marco Rubio, do Departamento de Estado dos EUA, e seu adjunto, Christopher Landau, defendem medidas mais duras contra o Brasil. Já o Secretário do Comércio, Howard Lutnick, e o representante de Comércio dos EUA, Jamieson Greer, são vistos como mais abertos ao diálogo. O “shutdown” do governo americano, resultante da falta de acordo orçamentário no Congresso, também adiciona um elemento de incerteza, podendo desviar o foco da administração Trump dos preparativos para o encontro.
Esforços Diplomáticos e Empresariais para Desbloquear Diálogo
Diante do cenário de atrito, houve intensos esforços para amenizar a tensão. O Ministro das Relações Exteriores do Brasil, Mauro Vieira, e o Secretário de Estado americano, Marco Rubio, mantiveram contatos desde julho. O empresariado brasileiro também se mobilizou: a Confederação Nacional da Indústria (CNI) enviou uma comitiva a Washington, e empresários como Joesley Batista discutiram as taxas sobre o setor de carne.
O vice-presidente Geraldo Alckmin também atuou na linha de frente, participando de videoconferências com representantes do comércio americano, antes e depois do discurso de Trump na ONU.
Os Riscos de um Encontro Presencial com Trump: Lições do Passado
Um dos maiores desafios para a equipe de Lula é a imprevisibilidade de Trump em encontros presenciais. O ex-presidente americano é conhecido por quebrar protocolos diplomáticos, desviar de pautas e fazer acusações inesperadas, como visto nos encontros com o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky e o sul-africano Cyril Ramaphosa.
Diplomatas brasileiros agem com cautela, priorizando que qualquer encontro seja de fato benéfico ao Brasil, evitando situações de constrangimento. A expectativa é que uma conversa preliminar por telefone ou videoconferência possa pavimentar o caminho para um encontro presencial mais produtivo e menos arriscado. A decisão final, contudo, dependerá da vontade e da estratégia de ambos os presidentes.
Acompanhe os próximos capítulos dessa complexa trama diplomática que envolve duas das maiores economias do mundo e líderes com estilos tão distintos.
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