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Ponta Negra em Alerta: O Mar Avança Após a Engorda e Levanta Dúvidas sobre o Futuro da Praia

Ponta Negra em Alerta: O Mar Avança Após a Engorda e Levanta Dúvidas sobre o Futuro da Praia

temp_image_1760019153.405472 Ponta Negra em Alerta: O Mar Avança Após a Engorda e Levanta Dúvidas sobre o Futuro da Praia

Ponta Negra em Alerta: O Mar Avança Após a Engorda e Levanta Dúvidas sobre o Futuro da Praia

A famosa Praia de Ponta Negra, em Natal, capital potiguar, voltou a ser palco de um cenário preocupante. Pelo segundo dia consecutivo, o mar avançou de forma incomum sobre a área recém-engordada, derrubando a cerca que protegia o icônico Morro do Careca e deixando a faixa de areia empossada. Este evento reacende o debate sobre a eficácia e as consequências da milionária obra de engorda, concluída recentemente.

Mar Inunda a Praia: Cenário Inesperado ou Consequência Anunciada?

Na madrugada da última quarta-feira (8), por volta das 4h30, a maré atingiu mais de 2 metros de altura, segundo a Tábua da Maré, e surpreendeu moradores e turistas ao inundar a orla de Ponta Negra. Não foi apenas um avanço pontual, mas um acúmulo persistente de água que se recusava a retornar ao mar, transformando partes da praia em verdadeiras lagoas.

Para o professor aposentado da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e fundador do curso de mestrado em Engenharia Ambiental, João Abner, a explicação é técnica e alarmante. Ele aponta para uma inclinação negativa da praia em direção ao calçadão, gerada pela própria obra de engorda. “Naturalmente, a inclinação é no sentido do mar. Esse acúmulo é resultado de um processo artificial”, explica Abner, sugerindo que uma terraplenagem corretiva é essencial.

A Visão do Especialista: Falhas na Drenagem e Riscos de Erosão

O engenheiro João Abner é enfático ao afirmar que os problemas atuais decorrem de um “vício de origem” da obra. Ele destaca a ausência de um especialista em drenagem desde o licenciamento ambiental e a incompatibilidade da nova obra com o sistema de drenagem existente. Sua análise aponta que, sem as correções necessárias, o acúmulo de água pode gerar voçorocas e, em períodos chuvosos, até mesmo comprometer a estrutura da rua Erivan França e construções próximas.

“A drenagem é a parte mais séria que tem. Todo acidente de drenagem é provocado por isso. Em período de chuva forte, quando ultrapassa a capacidade de escoamento, arrebenta.” – João Abner, UFRN.

Para mitigar a erosão e o acúmulo de água, o professor sugere soluções práticas:

  • Criação de canais de escoamento a cada 400 metros ao longo da praia.
  • Preparo de uma espécie de canal com 50 metros de largura para garantir um escoamento gradual.
  • Instalação de um mini emissário submarino ao pé do Morro do Careca, onde escadarias direcionam a água para a praia.

A Posição da Prefeitura: Fenômeno Natural?

Em contraponto à análise crítica dos especialistas, a Secretaria Municipal de Infraestrutura (Seinfra) de Natal se manifestou por meio de nota. A pasta atribui o avanço do mar ao “espraiamento”, um movimento natural da maré alta influenciado pelo período de lua cheia e ventos fortes, com o mar atingindo cerca de 2,9 metros. A secretária Shirley Cavalcanti reforçou que se trata de um fenômeno natural e que deve se repetir, sem detalhar ações corretivas para a situação.

Controvérsia e o “Amadorismo” nas Obras Públicas

A situação em Ponta Negra levanta questionamentos profundos sobre o planejamento e a execução de obras de grande porte. Abner critica a falta de previsão e o que ele chama de “amadorismo” na condução do projeto, especialmente na etapa de licenciamento ambiental. Ele ressalta que princípios básicos de engenharia foram ignorados, com graves implicações para o futuro da área.

“Isso mostra a fragilidade de Natal, isso é o bê a bá, elementar, coisas que se ensina nos primeiros anos do curso de engenharia. Estamos lidando com analfabetos, com pessoas que não são do ramo, que não poderiam assumir cargos e decidir questões importantes,” dispara o engenheiro, lamentando a politização de decisões técnicas.

Morro do Careca e a Questão da Responsabilidade

O incidente de a cerca do Morro do Careca ter sido derrubada pela força do mar expõe outra camada de problemas. O Instituto de Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente (Idema) informou que, como não recebeu oficialmente a obra de engorda da Prefeitura, a responsabilidade pela cerca – que foi substituída pela gestão municipal por material diferente do original – recai sobre a Prefeitura. O Idema reitera seu compromisso com a proteção do Morro do Careca, um patrimônio ambiental e turístico de Natal, e cobra esclarecimentos sobre as modificações.

Para mais informações sobre a importância da gestão costeira, visite o site do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).

A Engorda de Ponta Negra: Uma Obra Marcada por Polêmicas

A obra de engorda da Praia de Ponta Negra, orçada em cerca de R$ 100 milhões, foi desde o início cercada por controvérsias. Realizada sem o acompanhamento regular de órgãos de fiscalização, a Prefeitura de Natal obteve o Licenciamento de Instalação e Operação (LIO) por força judicial, mas para uma área de jazida de areia diferente da utilizada. Para contornar a necessidade de nova licença, um decreto de emergência por erosão foi emitido em setembro de 2024, permitindo que a obra seguisse sem licenciamento ambiental adequado.

Em outubro do mesmo ano, um mandado de segurança impediu o Idema de fiscalizar a obra, que foi concluída em janeiro de 2025, mas com a drenagem finalizada apenas em março. Tais eventos históricos adicionam complexidade ao cenário atual, levantando questões sobre a legalidade e a transparência do processo.

O Futuro da Praia de Ponta Negra

Diante do mar que avança e das críticas contundentes de especialistas, o futuro da Praia de Ponta Negra permanece incerto. A necessidade de soluções duradouras, baseadas em ciência e engenharia, e não em decisões políticas ou emergenciais, torna-se cada vez mais evidente. A gestão costeira eficaz é crucial não apenas para preservar o patrimônio natural e turístico, mas também para garantir a segurança da infraestrutura e dos moradores de Natal.

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