×

Wanderlei Barbosa: Um Mês de Afastamento, Suspeitas de Desvios e o Cenário Político do Tocantins

Wanderlei Barbosa: Um Mês de Afastamento, Suspeitas de Desvios e o Cenário Político do Tocantins

temp_image_1759710894.826123 Wanderlei Barbosa: Um Mês de Afastamento, Suspeitas de Desvios e o Cenário Político do Tocantins

Wanderlei Barbosa: Um Mês de Afastamento, Suspeitas de Desvios e o Cenário Político do Tocantins

A política do Tocantins foi sacudida por um terremoto judicial há exatamente um mês. Em 3 de setembro de 2025, o governador Wanderlei Barbosa (Republicanos) e a primeira-dama, Karynne Sotero, foram surpreendidos com uma decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ), que os afastou de seus cargos. O motivo? Uma complexa investigação da Polícia Federal (PF), batizada de Operação Fames-19, que apura supostos desvios de recursos públicos em contratos emergenciais para a compra de cestas básicas durante o auge da pandemia de Covid-19.

Desde então, o vice-governador Laurez Moreira (PSD) assumiu o comando do estado, enquanto o cenário político e jurídico se desenrola com acusações, defesas e uma “dança das cadeiras” no primeiro escalão. Mas o que exatamente levou a esse afastamento e quais são as ramificações dessa investigação?

A Operação Fames-19: Desvendando o Esquema de Desvios

A Operação Fames-19, em sua segunda fase, mira em crimes graves como frustração ao caráter competitivo de licitação, peculato, corrupção passiva, lavagem de capitais e formação de organização criminosa. As investigações da Polícia Federal concentram-se em irregularidades que teriam ocorrido entre 2020 e 2021, período em que o estado do Tocantins declarou emergência em saúde pública devido à pandemia.

À época dos fatos investigados, Wanderlei Barbosa era o responsável pela Secretaria do Trabalho e Desenvolvimento Social (Setas), órgão que gerenciava os recursos destinados à população vulnerável. A PF aponta que ele teria orquestrado um esquema de desvios por meio de contratações fraudulentas.

O Papel da Primeira-Dama Karynne Sotero

Karynne Sotero, além de primeira-dama, ocupava o cargo de Secretária Extraordinária de Participações Sociais. As investigações sugerem que ela teria tido um papel crucial, atuando na intermediação das contratações, organizando a documentação e garantindo o cumprimento dos requisitos para o recebimento de verbas públicas. A PF indica que ela tinha ciência da distribuição de vantagens indevidas previamente combinadas.

A defesa de Karynne Sotero afirmou que está “acompanhando o governador Wanderlei Barbosa nas discussões com os advogados e aguardando a decisão para restabelecer a normalidade jurídica, política e democrática no estado do Tocantins, com o retorno do eleito pelo povo”. A defesa de Wanderlei Barbosa não se pronunciou até o momento, segundo informações do processo.

Cestas Básicas “Forjadas” e a Estrutura do Esquema

Um dos pontos mais alarmantes da investigação diz respeito à contratação irregular de empresas para fornecer alimentos. As apurações revelaram que algumas dessas empresas teriam sido abertas pouco antes de serem contratadas ou teriam alterado seu ramo de atividade para se adequar aos editais.

Há evidências de que uma das empresas contratadas teria chegado a forjar a montagem das cestas básicas, utilizando produtos emprestados de outra empresa para simular o cumprimento do contrato e enganar a fiscalização. Uma lista com 1.500 nomes e CPFs, supostamente de beneficiários que receberam os produtos, foi apresentada para prestar contas, mas a PF levanta suspeitas sobre sua veracidade.

Quatro Núcleos de Atuação

A Polícia Federal desarticulou o suposto esquema em quatro núcleos distintos:

  • Agentes Políticos: Liderado por Wanderlei Barbosa e Karynne Sotero, este núcleo também incluiria agentes do Legislativo do Tocantins, envolvidos em desvio de recursos via emendas parlamentares.
  • Servidores Públicos: Responsáveis por direcionar as licitações e operações fraudulentas.
  • Núcleo Empresarial: Composto por “laranjas” e empresas de fachada que simulavam concorrência.
  • Lavagem de Capitais: Dedicado à ocultação e dissimulação da origem ilícita dos recursos.

A Dança das Cadeiras e o Clima de Tensão Política

A posse de Laurez Moreira como governador em exercício gerou uma imediata “dança das cadeiras” na administração estadual. Atendendo a uma recomendação do ministro Mauro Campbell, do STJ, Laurez exonerou todos os secretários do primeiro escalão. Embora tenha reconduzido alguns nomes posteriormente, as mudanças foram significativas e geraram um novo rearranjo político.

Troca de Farpas e Acusações

O afastamento de Wanderlei Barbosa abriu espaço para uma pública troca de acusações entre ele e Laurez Moreira. Em redes sociais, Wanderlei Barbosa alegou ser vítima de perseguição política, acusando Laurez de tramar contra ele em Brasília. “Eu sofri muito, por isso houve o meu afastamento do Laurez, porque eu sabia o que ele estava fazendo. Eu tinha informações diárias dele em Brasília, tentando o tempo inteiro me afastar do mandato”, declarou Barbosa em vídeo.

Laurez Moreira, por sua vez, rechaçou as acusações, afirmando que o afastamento de Barbosa é uma questão de justiça e que ele deve “responder pelos atos que praticou”, negando qualquer trama política. Um dos primeiros atos de Laurez foi suspender o contrato de táxi aéreo usado por Barbosa, justificando que um governador deveria viajar para trazer recursos ao estado, “mas não sair com seus amigos para fazer viagens internacionais”.

O Futuro Político e Jurídico no Tocantins

A decisão do STJ estabelece que Wanderlei Barbosa está afastado de suas funções, mas não perdeu o cargo. O afastamento tem prazo de 180 dias (seis meses). Em setembro, o governador afastado entrou com um pedido de habeas corpus para tentar retornar ao cargo, que, após recusa inicial por falta de documentação, segue em análise no Supremo Tribunal Federal (STF).

A situação inusitada resultou em um “Tocantins com dois governadores” nas redes sociais, onde tanto Wanderlei Barbosa quanto Laurez Moreira se identificam como “Governador do Tocantins” em suas biografias no Instagram, evidenciando a dualidade e a tensão política.

Enquanto o STF analisa o pedido de retorno e as investigações da PF avançam, o estado do Tocantins aguarda o desfecho de um dos capítulos mais complexos de sua história política recente, com as atenções voltadas para as próximas decisões da Justiça e os impactos sobre a governança e a confiança pública.

Compartilhar: