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Dia Internacional do Homem: Por Que a Saúde Masculina Pede Mais Atenção e Como Mudar Isso

Dia Internacional do Homem: Por Que a Saúde Masculina Pede Mais Atenção e Como Mudar Isso

temp_image_1752581827.346492 Dia Internacional do Homem: Por Que a Saúde Masculina Pede Mais Atenção e Como Mudar Isso


Celebrado anualmente em 15 de julho, o Dia Internacional do Homem vai muito além de uma simples data comemorativa. É um convite urgente à reflexão profunda sobre o que significa ser homem na sociedade contemporânea e, crucialmente, como essa construção social afeta diretamente a saúde masculina – tanto física quanto mental.

O Cenário Preocupante da Saúde do Homem no Brasil

Os dados não mentem e pintam um quadro alarmante. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), homens no Brasil vivem, em média, 5 anos a menos que as mulheres. Eles buscam menos cuidados preventivos e, lamentavelmente, morrem mais cedo por causas que, muitas vezes, poderiam ser evitadas.

Um comparativo de hábitos de saúde reforça essa disparidade: enquanto a Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) aponta que 82,3% das mulheres consultaram um médico no ano anterior, esse número cai significativamente para 69,4% entre os homens. Uma pesquisa da Cleveland Clinic, nos Estados Unidos, corrobora essa tendência, mostrando que apenas metade dos homens realiza exames de rotina, frequentemente por subestimarem a importância da própria saúde. A busca por ajuda médica, quando ocorre, é tardia, geralmente após os 40 anos e diante de sintomas já avançados.

A Raiz do Problema: Masculinidade e o Silêncio

Por trás desses números está uma complexa teia de normas culturais que moldaram a percepção do que é “ser homem”. Historicamente, a masculinidade tem sido associada à força inabalável, à autossuficiência e à supressão de emoções. Esse ideal, embora enraizado, impõe barreiras significativas ao acesso e à busca por cuidado masculino.

Mulheres são, em geral, incentivadas desde cedo a cuidar da saúde e a falar sobre suas emoções. Para muitos homens, no entanto, relatar desconfortos ou buscar ajuda profissional (médica ou psicológica) ainda é visto com constrangimento ou como um sinal de fraqueza. O levantamento da Cleveland Clinic revelou que 65% dos homens adiam ao máximo ir ao médico, e 1 em cada 3 sequer busca os resultados de exames por medo do diagnóstico ou de serem julgados.

A pesquisadora Mary Himmelstein, da Universidade de Connecticut, explicou à BBC Brasil que essa relutância deriva da educação para se apresentarem como fortes, evitando buscar ajuda por receio de serem vistos como fracos. “Crenças tradicionais sobre os papéis sociais contribuem para a forma como nossa cultura constrói a masculinidade […] No caso dos homens, essas crenças contribuem para a ideia de que, para ser um ‘bom homem’, é preciso ser duro, corajoso e absolutamente autossuficiente”, afirmou. Segundo ela, o problema é que essas crenças criam obstáculos intransponíveis para pedir ajuda, mesmo diante de doenças ou lesões.

Paulo Ceccarelli, psicólogo e psicanalista, aponta que essa construção cultural impõe uma “violência de não cuidado”. Ele ressalta que crescemos ouvindo frases como “menino não pode chorar” ou “isso não é coisa de menino”, internalizando a ideia de que o homem ideal é aquele que não adoece, é sempre forte e dá conta de tudo. Assim, os próprios homens acabam sendo vítimas dessa cultura, que se manifesta na chamada masculinidade tóxica.

Consequências do Silêncio: Impacto na Saúde Mental e Física

A repressão emocional e a dificuldade em expressar vulnerabilidade, muitas vezes ensinadas desde a infância, têm consequências devastadoras. Artigos na área da psicologia e da saúde mental, como apontado por estudos da Faculdade de Medicina da UFMG, indicam que essa repressão pode dificultar diagnósticos psicológicos e agravar quadros emocionais.

O resultado é um dado estarrecedor: o Centro de Valorização da Vida (CVV) aponta que a taxa de tentativas de suicídio na população masculina é quase quatro vezes maior que na feminina. Isso sublinha a urgência em abordar a saúde mental masculina de forma aberta e sem tabus.

A masculinidade tóxica, com suas expectativas rígidas de “homem não chora” ou “nasce pronto”, nega a sensibilidade e impede o autoconhecimento. A pesquisa “Meninos: sonhando os homens do futuro”, do coletivo PapodeHomem, trouxe à luz dados preocupantes sobre a autoestima e as referências de masculinidade entre os mais jovens, com muitos meninos sentindo-se inseguros sobre serem amados ou com poucas referências positivas de cuidado.

Quebrando o Ciclo: O Chamado ao Autocuidado

Neste Dia Internacional do Homem, a mensagem é clara: mais do que celebrar, é preciso incentivar um olhar honesto para si mesmo. Falar sobre sentimentos, compartilhar angústias com amigos ou familiares, buscar apoio psicológico e manter os cuidados médicos em dia não são, em absoluto, sinais de fraqueza.

Pelo contrário, são atos de coragem, responsabilidade e um profundo respeito pela própria vida e pela daqueles que o cercam. Romper com o silêncio imposto pelas normas ultrapassadas da masculinidade tóxica é fundamental para que mais homens possam viver de forma plena, saudável e feliz.

O primeiro passo pode ser simples, mas é transformador: escutar o próprio corpo, acolher suas emoções sem julgamento e permitir-se pedir ajuda quando necessário. Isso, também, é ser forte. Isso, também, é ser homem.


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