Fígado Gorduroso (MASLD): A Epidemia Silenciosa que Você Precisa Conhecer e Combater

Fígado Gorduroso (MASLD): A Epidemia Silenciosa que Você Precisa Conhecer e Combater
O fígado, um dos órgãos mais vitais do nosso corpo, trabalha incansavelmente para nos manter saudáveis. No entanto, uma condição silenciosa e cada vez mais comum ameaça a sua funcionalidade: a Doença Hepática Esteatótica Associada à Disfunção Metabólica (MASLD), anteriormente conhecida como fígado gorduroso.
Considerada uma verdadeira epidemia global, a MASLD afeta cerca de 38% da população mundial, com uma prevalência ainda maior em regiões como a América Latina. No Brasil, onde aproximadamente 31% dos adultos vivem com obesidade, estima-se que 8 em cada 10 indivíduos obesos desenvolvam esteatose hepática, elevando drasticamente o risco de MASLD no país. Mas o que exatamente é essa condição e como podemos enfrentá-la?
O Que É o Fígado Gorduroso (MASLD)?
A MASLD é caracterizada pelo acúmulo excessivo de gordura nas células do fígado. Embora a esteatose hepática isolada possa ser benigna em alguns casos, ela é frequentemente a porta de entrada para um espectro mais grave de doenças. Quando há inflamação associada, a condição é chamada de esteato-hepatite (MASH), que pode evoluir para estágios mais avançados, como fibrose, cirrose e, em casos mais severos, câncer de fígado.
Atualmente, a MASLD é uma das principais causas de transplante hepático globalmente, o que sublinha a sua gravidade e o impacto socioeconômico que gera. O grande desafio é que, na maioria dos casos, ela permanece assintomática até que a doença já esteja em fases avançadas, dificultando o diagnóstico precoce e o tratamento do fígado.
Obesidade e Fatores de Risco: A Ligação Perigosa para a Saúde Hepática
A obesidade é um dos principais motores da MASLD, sendo uma doença crônica complexa com múltiplos determinantes, incluindo fatores genéticos e biológicos. O impacto da obesidade no sistema de saúde é vasto, abrangendo desde diabetes descompensado até complicações cardíacas e oncológicas, que são, por sua vez, importantes causas de mortalidade na doença metabólica do fígado.
Um estudo nacional recente, conduzido com mais de 12.000 pessoas no SUS, revelou que impressionantes 62,1% dos participantes apresentavam MASLD. Além disso, cerca de 40% mostravam marcadores sugestivos de fibrose hepática, e uma característica genética ligada à progressão da doença foi identificada em mais de 50% dos casos examinados. Esses dados reforçam a urgência de estratégias de prevenção e tratamento para a saúde do fígado.
Diagnóstico Precoce: A Chave para a Prevenção de Complicações no Fígado
Diante da natureza silenciosa da MASLD, o rastreamento é fundamental. A Sociedade Brasileira de Hepatologia (SBH) recomenda o rastreamento em indivíduos com sobrepeso ou obesidade. Similarmente, a Associação Europeia para o Estudo do Fígado sugere a avaliação de pacientes de alto risco, especialmente aqueles com obesidade e/ou diabetes.
As diretrizes indicam exames laboratoriais simples que permitem calcular escores preditores de fibrose, como o FIB-4. Quando disponível, a elastografia hepática é um exame complementar valioso. Esses métodos auxiliam na decisão de encaminhar o paciente a um especialista, uma etapa crucial quando há risco de fibrose, pois indica maior probabilidade de progressão da doença hepática e cardiovascular.
Estratégias de Combate ao Fígado Gorduroso: Do Estilo de Vida à Medicina Avançada
1. Mudanças no Estilo de Vida: A Base do Tratamento
A pedra angular do tratamento da MASLD continua sendo a adoção de um estilo de vida saudável. Isso inclui:
- Dieta Equilibrada: Uma alimentação tradicional brasileira, rica em arroz, feijão, carnes magras e vegetais, é altamente recomendada. O foco deve ser em alimentos integrais e a redução de açúcares, gorduras processadas e carboidratos refinados.
- Exercícios Físicos Regulares: Recomenda-se um mínimo de 150 minutos semanais de atividades aeróbias e de resistência. A atividade física ajuda na perda de peso, melhora a sensibilidade à insulina e reduz a gordura hepática.
2. Novas Esperanças na Medicina: Avanços Farmacológicos
A ciência tem feito grandes progressos. Novos medicamentos, aprovados pela FDA (Food and Drug Administration) em 2024 e 2025, como o Resmetirom e a Semaglutida, demonstraram eficácia notável no tratamento da MASH com fibrose significativa. Embora esses tratamentos ainda apresentem custos elevados e acesso limitado, estudos de farmacoeconomia apontam seus benefícios. É importante ressaltar que apenas uma minoria dos pacientes demanda terapia medicamentosa específica.
Além disso, diversas outras moléculas estão sendo estudadas, com resultados promissores esperados para os próximos anos. A expectativa é que medicamentos altamente eficazes no combate à obesidade possam, futuramente, frear o avanço da MASLD.
3. Cirurgia Bariátrica: Uma Opção para Casos Selecionados
Para indivíduos com obesidade severa, a cirurgia bariátrica permanece como uma indicação importante e está associada a efeitos positivos significativos e duradouros na doença hepática.
O Futuro do Combate à MASLD: Reconhecimento e Políticas Públicas
Apesar dos avanços no conhecimento e nas estratégias terapêuticas, ainda há uma lacuna significativa nas políticas públicas de saúde direcionadas ao combate à obesidade e à MASLD. O reconhecimento oficial da MASLD como uma doença crônica não transmissível é um passo crucial para promover estratégias de enfrentamento mais robustas e abrangentes.
Conforme destacado no recente congresso da SBH, chegou a hora de enfrentarmos essa “epidemia silenciosa” de forma decisiva. Temos o conhecimento e as ferramentas. Basta a vontade coletiva de agir para proteger a saúde do nosso fígado e, consequentemente, a qualidade de vida de milhões de brasileiros.
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