
Regina Casé e a Jornada Incrível de Estêvão Ciavatta: Da Tetraplegia ao Topo da Pedra da Gávea

“Não vai andar, não vai andar de bicicleta, não vai subir a Pedra da Gávea…” As palavras de desânimo ecoavam nos prognósticos médicos. Mas, para a icônica Regina Casé, cada “não” era um convite à superação. Dezoito anos após um devastador acidente que o deixou tetraplégico, o cineasta e artista Estêvão Ciavatta, seu marido, desafiou todas as expectativas e conquistou um de seus maiores sonhos: alcançar o topo da Pedra da Gávea, no Rio de Janeiro. Uma história de resiliência, amor e fé que o Fantástico revelou e que continua a inspirar.
O Acidente Que Mudou Tudo: Um Grito Por Ajuda Essencial
A vida de Estêvão Ciavatta foi virada de cabeça para baixo em um instante. Durante um passeio a cavalo, o animal, Popó, empinou violentamente, arremessando Estêvão contra o chão. O impacto direto na nuca o deixou tetraplégico, com o rosto afundado na terra. A consciência, porém, não o abandonou. Em um momento crucial, Estêvão deu uma instrução que salvou sua vida ao caseiro: “Não mexa em mim; preciso esperar a ambulância”. Essa decisão rápida e informada foi vital.
A lesão na medula espinhal era de gravidade similar à do ator Christopher Reeve, o eterno Superman, que também sofreu um acidente equestre e ficou permanentemente tetraplégico. No caso de Estêvão, a agilidade para acionar o neurocirurgião Paulo Niemeyer fez toda a diferença. O próprio cineasta relata que apenas 15 minutos de atraso na cirurgia poderiam ter sido fatais, devido à compressão da medula. Felizmente, a operação foi um sucesso, protegendo a coluna vertebral de danos ainda maiores.
A Luta Pela Recuperação: A Força Inabalável de Regina Casé e a Alegria de Viver
Os seis meses seguintes à cirurgia foram marcados por grandes desafios. Com movimentos restritos apenas a ombros e pernas, Estêvão dependia de ajuda para as tarefas mais básicas. Mas foi nesse momento de aparente impotência que Regina Casé, que se autodenomina uma “solucionática resolutiva”, encontrou sua maior motivação: duvidar de todos os prognósticos negativos. “Não aceitar o ‘não’ de cara” se tornou o lema do casal, alimentando uma fé inquebrantável.
Estêvão Ciavatta, por sua vez, abraçou a alegria do espírito para combater a tristeza do corpo. “Eu falei: ‘bom, meu corpo hoje já está muito triste, eu não vou deixar meu espírito ficar triste também, eu vou botar ele para cima, porque ele vai me ajudar a me levantar’”, recorda. Essa mentalidade positiva foi um pilar fundamental em sua reabilitação.
Um novo capítulo e um grande impulso na recuperação de Estêvão Ciavatta foi o nascimento do filho, Roque Casé Ciavatta. O cuidado com o bebê se transformou em uma poderosa terapia ocupacional. “Eu tinha que poder segurar ele no colo, eu tinha que poder trocar a fralda dele, mesmo que a minha mão não funcionasse direito”, revelou, evidenciando o amor e a determinação que o impulsionavam.
A Pedra da Gávea: O Símbolo de um Sonho Recobrado
Com uma rotina exaustiva de cinco horas diárias de fisioterapia, a Pedra da Gávea, que Estêvão já havia escalado mais de 40 vezes desde a adolescência, tornou-se mais do que uma montanha; era o limite a ser transposto, o símbolo máximo de sua superação. A cada sessão, a imagem do pico impunha-se como inspiração e objetivo.
A Conquista do Cume: O “Passo da Cobra” e a Força Familiar
A escalada da Pedra da Gávea marcou o ápice de 17 anos de reabilitação. Uma jornada que começou na trilha arborizada e culminou na desafiadora Carrasqueira. Estêvão levou consigo “determinação, fé, devoção, muita disposição e disciplina”. A subida foi feita no ritmo do “passo da cobra”, uma filosofia que aprendeu com uma amiga: a pressa morde, a calma vence. “Se eu quisesse ir na Pedra da Gávea cinco anos atrás, eu ia me ferrar”, exemplificou, mostrando a sabedoria adquirida com o tempo.
Regina Casé, que nunca subiu a Pedra da Gávea, acompanhou a jornada da montanha vizinha, a Pedra Bonita, confessando “muito medo de notícia ruim”. Mas a emoção tomou conta ao ver o filho Roque abdicar da escola para subir a montanha com o pai, um gesto que selou o apoio incondicional da família.
Uma Jornada que Transforma: A Melhor Vista Está na Perspectiva
Ao agradecer a amigos e familiares, Estêvão Ciavatta refletiu: “Eu sofria muito por não abrir minha mão direito, por não andar como todo mundo andava. E depois eu vi que a minha coisa mais forte era a minha diferença”. A aventura de 17 anos para escalar uma montanha revelou uma verdade profunda: a melhor vista nem sempre está na paisagem do cume, mas na jornada que modifica a todos os envolvidos. A história de Estêvão e Regina Casé é um testemunho poderoso de que, com amor, persistência e a capacidade de desafiar os “nãos”, os limites podem ser redefinidos e a vida, plenamente vivida.
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