
Revolução na Saúde: Medicamento Brasileiro para Lesão Medular Devolve Esperança de Movimentos

Revolução na Saúde: Medicamento Brasileiro para Lesão Medular Devolve Esperança de Movimentos
A ciência brasileira alcança um marco emocionante na busca pela regeneração de lesões medulares. Após mais de duas décadas de pesquisa, cientistas da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) desenvolveram um medicamento para lesão medular experimental que já mostrou resultados promissores, devolvendo parte dos movimentos a pacientes e animais. Esta inovação, baseada em uma proteína extraída da placenta, reacende a esperança para milhões de pessoas em todo o mundo.
O Começo da Recuperação: A História de Bruno
Imagine acordar e descobrir que seu corpo não responde. Foi o que aconteceu com Bruno Drummond de Freitas após um grave acidente de carro em 2018, que resultou em uma severa lesão cervical. Com a medula espinhal esmagada, ele se viu tetraplégico, sem movimentos nos membros, quadril ou abdômen. Contudo, em meio ao desespero, Bruno se tornou parte de um estudo clínico acadêmico, aprovado por rigorosos órgãos éticos.
Duas semanas após o procedimento experimental, um pequeno milagre: “Consegui mexer o dedo do pé”, relembra Bruno. O que parecia um movimento trivial, era, na verdade, o primeiro sinal de um avanço extraordinário na regeneração medular, fruto de uma pesquisa iniciada em 1999.
A Ciência Por Trás da Esperança: A Polilaminina em Ação
A equipe liderada pela professora doutora Tatiana Sampaio, da UFRJ, investigou a laminina, uma proteína crucial na comunicação neural durante o desenvolvimento embrionário. A descoberta foi revolucionária: era possível recriar em laboratório uma “malha” de polilaminina, extraindo as proteínas de placentas humanas. Esta polilaminina atua como uma ponte, permitindo que os neurônios lesionados restabeleçam a conexão crucial para transmitir impulsos elétricos.
Como explica Tatiana Sampaio:
“Para a gente mexer o dedão do pé, precisamos de dois neurônios. O que a gente descobriu aqui foi uma maneira de fazer com que essa conexão se restabeleça.”
A intervenção, realizada com uma única injeção de polilaminina no local da lesão em até 72 horas após o acidente, mostrou um potencial inédito. “Nenhum estudo no mundo com medicação atuando em regeneração medular conseguiu isso”, afirma o neurocirurgião Marco Aurélio Brás de Lima, que participou do estudo.
Resultados que Inspiram: Recuperação de Movimentos
Os primeiros estudos em humanos, com oito pacientes, trouxeram resultados diversos, mas inspiradores. Embora dois pacientes não tenham sobrevivido aos ferimentos iniciais, os outros seis apresentaram diferentes níveis de recuperação motora:
- Silvânia agora consegue elevar as pernas e pedalar.
- Guilherme readquiriu mobilidade nos braços, mãos e abdômen.
- Nilma Palmeira de Melo recuperou o controle do corpo, comanda sua cadeira de rodas e, surpreendentemente, consegue ficar de pé.
Além dos testes em humanos, um medicamento com polilaminina também foi testado em cães com lesões medulares mais antigas, com quatro de seis animais recuperando movimentos, um resultado publicado em revista científica internacional.
O Caminho Adiante: Aprovação e Novos Testes
A patente do composto de polilaminina levou 18 anos para ser registrada. Agora, uma empresa farmacêutica brasileira está à frente para transformar essa pesquisa em um tratamento para lesão medular amplamente disponível. No entanto, novos testes clínicos em humanos dependem da autorização da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). A agência aguarda informações complementares para garantir a segurança dos pacientes antes de autorizar a fase 1 com um número maior de participantes.
Especialistas pedem cautela, mas reconhecem a imensa esperança que essa pesquisa traz. O coordenador de pesquisa clínica na Anvisa, Claudiosvan Martins, explica que a empresa está realizando testes complementares para atender aos requisitos regulatórios, especialmente de segurança.
Uma Nova Realidade para Bruno e Milhares
Para Bruno, a recuperação foi além do dedo do pé. Ele ergueu as pernas, usou andador e bengala, subiu escadas, correu e até saltou. Hoje, ele caminha de forma independente, visitando os laboratórios onde sua jornada de recuperação começou.
“Hoje em dia, consigo me movimentar inteiro, claro que com certas limitações. Minha perna movendo… consigo levantar, consigo andar, dançar, voar. Isso daqui, graças a Deus, me garantiu minha independência.”
O avanço no tratamento para lesão medular com a polilaminina representa não apenas uma conquista científica brasileira, mas um farol de esperança para a comunidade global. É um testemunho do poder da pesquisa e da resiliência humana, prometendo um futuro onde a recuperação de movimentos após lesões medulares não seja mais um sonho distante.
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