×

Escândalo dos Tickets: Como Touts Lucram Milhões e Deixam Fãs Sem Ingresso

Escândalo dos Tickets: Como Touts Lucram Milhões e Deixam Fãs Sem Ingresso

temp_image_1750951824.547185 Escândalo dos Tickets: Como Touts Lucram Milhões e Deixam Fãs Sem Ingresso

Escândalo dos Tickets: Como Touts Lucram Milhões e Deixam Fãs Sem Ingresso

A febre por tickets de grandes shows e eventos esportivos no Reino Unido, como a aguardada turnê de reunião do Oasis ou os concorrida Eras Tour de Taylor Swift, expõe um mercado obscuro e altamente lucrativo: o dos touts (cambistas/scalpers). Uma investigação recente da BBC News revelou a sofisticação e o alcance global dessa prática, que deixa milhares de fãs frustrados e os obriga a pagar preços exorbitantes.

Enquanto fãs passam horas em filas virtuais, muitas vezes sem sucesso, os touts utilizam equipes organizadas, software automatizado e identidades múltiplas para adquirir ingressos em massa no momento em que são liberados. O objetivo? Revendê-los no mercado secundário por valores que chegam a ser 40 vezes maiores que o preço original.

A Operação por Trás do Scalping Milionário

A investigação, com repórteres disfarçados, desvendou a existência de empresas especializadas em ‘ticket pulling’, muitas delas sediadas no exterior. O chefe de uma dessas operações no Paquistão revelou à BBC que suas equipes conseguiram centenas de tickets para a turnê de Taylor Swift. Ele se gabou do sucesso em eventos de alta demanda:

“Acho que tivemos 300 ingressos para o Coldplay e, na mesma semana, para o Oasis – nos saímos muito bem”, disse ele, estimando que alguns touts do Reino Unido estão “fazendo milhões” com essa prática.

Essa aquisição em massa frequentemente envolve o uso de softwares que burlam os sistemas de fila e limites de compra, além de múltiplos cartões de crédito e identidades, configurando um cenário de potencial fraude.

Táticas que Burlam a Fila e Deixam Fãs para Trás

Um especialista com quase 40 anos na indústria de tickets, Reg Walker, demonstrou à BBC como grupos secretos online afirmam gerar “passes de fila” — equivalentes a 100 mil pessoas furando a fila de uma vez. Essa capacidade esmagadora impede que os fãs comuns, que respeitam as regras de limite de tickets por pessoa nas plataformas primárias como Ticketmaster, consigam comprar seus ingressos.

O problema se estende às plataformas de revenda como StubHub e Viagogo. Embora essas empresas afirmem combater práticas ilegais, um ex-funcionário da Viagogo alegou ter visto perfis com milhares de tickets listados, comprados em “grandes quantidades” para revenda e lucro. A Viagogo refuta essa afirmação, declarando que a maioria dos vendedores lista menos de cinco tickets.

Do Palco ao Campo: Futebol Também é Alvo

O scalping de tickets não se limita a shows. A investigação encontrou evidências de milhares de ingressos para jogos da Premier League sendo anunciados ilegalmente acima do valor de face. No Reino Unido, a revenda de tickets de futebol sem autorização é crime desde 1994.

Foram encontrados 8 mil tickets anunciados ilegalmente para um único jogo entre Arsenal e Chelsea. Um dos vendedores identificados foi um jogador semiprofissional, que teria anunciado ingressos totalizando mais de £60 mil em redes sociais no último ano.

Outra prática preocupante é a “venda especulativa”, onde touts anunciam tickets para revenda sem sequer possuí-los. Isso não só prejudica os fãs que podem comprar ingressos inexistentes, como também é uma forma de fraude, que já levou cambistas à prisão em 2020. A BBC encontrou centenas de assentos listados “especulativamente” para um show, sendo oferecidos simultaneamente nas plataformas primária e secundária.

A Luta Regulatória e Seus Desafios

O governo do Reino Unido planeja novas legislações para combater os touts, incluindo a possibilidade de limitar o preço de revenda (a até 30% acima do valor original), aumentar multas e criar um regime de licenciamento. O primeiro-ministro Keir Starmer já havia prometido abordar o tema.

No entanto, críticos argumentam que as medidas podem não ser suficientes, e a presidente do comitê de Cultura, Mídia e Esporte do parlamento, Dame Caroline Dinenage, descreveu a situação como um “campo minado” para os fãs.

O exemplo da Irlanda, que introduziu leis em 2021 para impedir a revenda acima do valor de face, mostra os desafios: a lei ainda é contornada, especialmente por empresas sediadas no exterior, com tickets sendo revendidos por até quatro vezes o preço original. A dificuldade de punir operadores internacionais complica a aplicação da lei.

O objetivo do governo do Reino Unido, segundo a secretária de cultura Lisa Nandy, é “fortalecer a proteção ao consumidor e impedir que os fãs sejam explorados”, garantindo que o dinheiro gasto com tickets retorne ao setor de eventos ao vivo, “em vez de ir para os bolsos de touts gananciosos”.

A investigação da BBC lança luz sobre a “atividade imoral, em alguns casos ilegal” no mercado de tickets, onde operadores muitas vezes de fora do Reino Unido fazem fortunas comprando ingressos em massa e os revendendo com lucros massivos, por vezes vendendo tickets que nem existem. A batalha para garantir que os fãs genuínos tenham acesso justo aos eventos que amam está longe de terminar.

Compartilhar: